segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

NOSSA SENHORA DO Ó

NOSSA SENHORA DO Ó



 
Nossa Senhora do Ó é uma devoção mariana surgida em Toledo, na Espanha, remontando à época do X Concílio, presidido pelo arcebispo Santo Eugênio, quando se estipulou que a festa da Anunciação fosse transferida para o dia 18 de Dezembro.

 
Sucedido no cargo por seu sobrinho, Santo Ildefonso, este determinou, por sua vez, que essa festa se celebrasse no mesmo dia, mas com o título de Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria.

 

Pelo fato de, nas vésperas, se proferirem as antífonas maiores, iniciadas pela exclamação (ou suspiro) “Oh!”, o povo teria passado a denominar essa solenidade como Nossa Senhora do Ó. (in: SILVA, Pe. Martinho da. Flores de Maria)

 
A EXPECTAÇÃO DO PARTO DE NOSSA SENHORA






 
É uma festa católica de origem claramente espanhola, a festa é conhecida na liturgia com o nome de "Expectação do parto de Nossa Senhora", e entre o povo com o título de "Nossa Senhora do Ó".

Os dois nomes têm o mesmo significado e objetivo: os anelos santos da Mãe de Deus por ver o seu Filho nascido.

Anelos de milhares e milhares de gerações que suspiraram pela vinda do Salvador do mundo, desde Adão e Eva, e que se recolhem e concentram no Coração de Maria, como no mais puro e limpo dos espelhos.

 
A Expectação (expectativa) do parto não é simplesmente a ansiedade, natural na mãe jovem que espera o seu primogênito; é o desejo inspirado e sobrenatural da "bendita entre as mulheres", que foi escolhida para Mãe Virgem do Redentor dos homens, para corredentora da humanidade.

Ao esperar o seu Filho, Nossa Senhora ultrapassa os ímpetos afetivos de uma mãe comum e eleva-se ao plano universal da Economia Divina da Salvação do mundo.

 
AS ANTÍFONAS MAIORES
 
 
 
 
 
 


 

As antífonas maiores que põe a Igreja nos lábios dos seus sacerdotes desde hoje até a Véspera do Natal e começam sempre pela interjeição exclamativa Ó

 
("Ó Sabedoria... vinde ensinar-nos o caminho da salvação";

"Ó rebento da Raiz de Jessé... vinde libertar-nos, não tardeis mais"; "Ó Emanuel..., vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus"),

 
como expoente altíssimo do fervor e ardentes desejos da Igreja, que suspira pela vinda de Jesus, inspiraram ao povo espanhol a formosa invocação de "Nossa Senhora do Ó".



 

É ideia grande e inspirada: a Mãe de Deus, posta à frente da imensa caravana da humanidade, peregrina pelo deserto da vida, que levanta os braços suplicantes e abre o coração enternecido, para pedir ao céu que lhe envie o Justo, o Redentor.


Antífonas do Ó
 
 
 
 
 
 
 


As Antífonas do Ó são sete antífonas especiais, cantadas no Tempo do Advento, especialmente de 17 a 23 de dezembro antes e depois do Magnificat, na hora canônica das Vésperas. As Antífonas do Ó são assim chamadas porque tem início com esse vocativo.
As Antífonas do Ó foram compostas entre o século VII e o século VIII, sendo um compêndio de cristologia da antiga Igreja, um resumo expressivo do desejo de salvação, tanto de Israel no Antigo Testamento, como da Igreja no Novo Testamento.


São orações curtas, dirigidas a Cristo, que resumem o espítito do Advento e do Natal. Expressam a admiração da Igreja diante do mistério de Deus feito Homem, buscando a compreensão cada vez mais profunda de seu mistério e a súplica final urgente: «Vem, não tardes mais!».


Todas as sete antífonas são súplicas a Cristo, em cada dia, invocado com um título diferente, um título messiânico tomado do Antigo Testamento.
A reforma liturgica pós Vaticano II, ao introduzir o vernáculo na liturgia, não esqueceu os textos das Antífonas do Ó, veneráveis pela antiguidade e atribuídos por muitos ao Papa Gregório Magno (+604). Ela os valorizou ainda mais com aclamação ao Evangelho da Missa, além de conservá-los como antífonas do Magnificat.


Cada antífona é composta de uma invocação, ligada a um símbolo do Messias, e de uma súplica, introduzida pelo verbo "vir".


O acróstico ERO CRAS







Se lídas em sentido inverso, isto é, da última para a primeira, as iniciais latinas da primera palavra depois da interjeição «Ó», resultam no acróstico «ERO CRAS», que significa «serei amanhã, virei amanhã», que é a resposta do Messias à súplica dos fiéis.


 O uso do canto gregoriano






O uso do canto gregoriano nas Antífonas do Ó remonta ao século VI e desde sempre concorda a voz com a Palavra, reafirmando a importância da unidade da celebração, o uníssono da voz de toda a comunidade.





O texto das antífonas do ó








17 de dezembro


Ó Sabedoria


que saístes da boca do altíssimo


atingindo de uma a outra extremidade


e tudo dispondo com força e suavidade:


Vinde ensinar-nos o caminho da prudência








 

18 de dezembro

Ó Adonai

guia da casa de Israel,

que aparecestes a Moises na chama do fogo

no meio da sarça ardente e lhe deste a lei no Sinai

Vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço.








19 de dezembro

Ó Raiz de Jessé

erguida como estandarte dos povos,

em cuja presença os reis se calarão

e a quem as nações invocarão,

Vinde libertar-nos; não tardeis jamais.








 

20 de dezembro

Ó Chave de Davi

o cetro da casa de Israel

que abris e ninguém fecha;

fechais e ninguém abre:

Vinde e libertai da prisão o cativo

assentado nas trevas e à sombra da morte.









21 de dezembro

Ó Oriente

esplendor da luz eterna e sol da justiça

Vinde e iluminai os que estão sentados

nas trevas e à sombra da morte.









 

22 de dezembro

Ó Rei das nações

e objeto de seus desejos,

pedra angular

que reunis em vós judeus e gentios:

Vinde e salvai o homem que do limo formastes







23 de dezembro

Ó Emanuel,

nosso rei e legislador,

esperança e salvador das nações,

Vinde salvarnos,

Senhor nosso Deus.

INSTITUIÇÃO DA FESTA







 
A festa de Nossa Senhora do Ó foi instituída no século VI pelo décimo Concílio de Toledo, ilustre na História da Igreja pela dolorosa, humilde, edificante e pública confissão de Potâmio, Bispo bracarense, pela leitura do testamento de São Martinho de Dume e pela presença simultânea de três santos de origem espanhola: Santo Eugênio III de Toledo, São Frutuoso de Braga e o então abade agaliense Santo Ildefonso.

 
Primeiro comemorava-se, no dia 18 de dezembro, a Anunciação de Nossa Senhora e Encarnação do Verbo.

 
Santo Ildefonso estabeleceu-a definitivamente e deu-lhe o título de "Expectação do parto".

 
Assim ficou sendo na Hispânia e passou a muitas Igrejas da França, etc.

 
Ainda hoje é celebrada na Arquidiocese de Braga.

Em Portugal







Em Portugal, o culto à Expectação do Parto, ou a Nossa Senhora do Ó, teria se iniciado em Torres Novas (SANTA MARIA, Frei Agostinho de. Santuário Mariano), onde uma antiga imagem da Senhora era venerada na Capela-mor da Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo.
Esta imagem era conhecida à época de D. Afonso Henriques por Nossa Senhora de Almonda (devido ao rio Almonda, que banha aquela povoação), à época de D. Sancho I por Nossa Senhora da Alcáçova (c. 1187) ou, a partir de 1212, quando se lhe edificou (ou reedificou) a igreja, por Nossa Senhora do Ó. Esta imagem é descrita pelo mesmo autor como:

É esta santa imagem de pedra mas de singular perfeição. Tem de comprimento seis palmos.

 
No avultado do ventre sagrado se reconhecem as esperanças do parto. Está com a mão esquerda sobre o peito e a direita tem-na estendida. Está cingida com uma correia preta lavrada na mesma pedra e na forma de que usam os filhos de meu padre Santo Agostinho.

Registam-se outras imagens da Senhora do Ó em Águas Santas, em Elvas, em Tomar, em Viseu e em Sobral da Adiça.

Nossa Senhora do Ó é a padroeira de dezessete freguesias portuguesas, situadas na sua maioria nas dioceses mais setentrionais do país.

 
No Brasil
 






 

No Brasil, o culto iniciou-se à época desde o início da colonização, com o Capitão donatário Duarte Coelho, na Capitania de Pernambuco. Tendo fundado a vila de Olinda, nessa povoação erigiu-se uma Igreja sob a invocação de São João Batista, administrada por militares, onde era venerada uma imagem de Nossa Senhora da Expectação ou do Ó.

De acordo com Frei Vicente Mariano, também se tratava de uma imagem pequena com cerca de dois palmos de altura, entalhada em madeira e estofada, de autoria e origem desconhecida.

 
A tradição reputa esta imagem como milagrosa, tendo vertido lágrimas em 28 de Julho de 1719.

A partir dessa primitiva imagem em Olinda, a devoção se espalhou em terras brasileiras graças a cópias na Ilha de Itamaracá, em Goiana, em Ipojuca e em São Paulo, nesta última em casa da família de Amador Bueno e na do bandeirante Manuel Preto que fundou a igreja e o bairro bem conhecidos até hoje.

Os bandeirantes , por sua vez levaram a devoção para Minas Gerais, onde, em Sabará, se erige a magnífica Capela de Nossa Senhora do Ó, em estilo indo-europeu, atualmente tombada pelo Iphan.

Iconografia



A imagem de Nossa Senhora do Ó sempre apresenta a mão esquerda espalmada sobre o ventre avantajado, em fase final de gravidez.

 
A mão direita pode também aparecer em simetria à outra ou levantada.

 
Encontram-se imagens com esta mão segurando um livro aberto ou também uma fonte, ambos significando a fonte da vida.

 
Em Portugal essas imagens costumavam ser de pedra e, no Brasil, de madeira ou argila.


 
Perseguição religiosa

 




 

No começo do século XIX, mudanças no culto mariano começavam a estimular o dogma da Imaculada Conceição, o que não combinava com aquela santa em estado de adiantada gravidez, como a retratava a iconografia, estimada pelas mulheres à espera da hora do parto.

 
Muitas imagens foram trocadas pela da Nossa Senhora do Bom Parto, vestida de freira, com o ventre disfarçado pela roupa, ou mesmo pela imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, mais condizente com os ventos moralistas de então.

 
Somente no fim do século XX se voltou a falar e pesquisar o assunto, tendo-se encontrado imagens antigas enterradas sob o altar das igrejas.






ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO Ó









 
Doce Virgem Maria,

cujo coração foi por Deus preparado

para morada do verbo feito carne

pelas inefáveis alegrias da expectação

de vosso santíssimo parto,

ensinai-nos as disposições perfeitas

de uma íntegra pureza no corpo e na alma,

de uma humildade profunda

no espírito e no coração,

de um ardente e sincero desejo

de união com Deus,

para que o meigo fruto de vossas benditas entranhas,

venha a nascer misericordiosamente em nossos corações,

a eles trazendo a abundância dos dons divinos,

para redenção dos nossos pecados,

santificação de nossa vida

e obtenção de nossa coroa no Paraíso,

em vossa companhia.

Assim seja.

Amém.









 






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